entrelinhas...

".. uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida..."
Clarice Lispector

Um lugar incomum..

"Viver é ser outro,nem sentir é possível,se hoje se sente como ontem se sentiu,sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir;é lembrar hoje o que se sentiu ontem,ser hoje o cadáver vivido do que ontem foi a vida perdida."
Fernando Pessoa.

domingo, 9 de dezembro de 2018

Há tanta coisa em ser você

E você é tanta coisa...

Você é!
E ser você, me dá coragem pra ser eu, me ampara nesses saltos entre o desconhecido e o de cor.
Me sustenta nesse eu meio fio, entre lá e cá, na bagunça e na confusão de ser e habitar.
Quando você é, você me deixa mais afim de estar aqui e de presenciar, me impulsiona a sentir.
Se você é, eu me empodero e me liberto.
Sendo você, tenho âmparo naqueles dias de forte temporadas que encharcam por dentro e não me deixam ser...
Eu, me olhei de perto, me debrucei sobre muitos significados dos seres e nenhum deles foi suficiente para suprir ausência do ser, antes de você.
Olhando para você, me reconheço, me traduzo, me acolho.
Eu fui, eu sou e ainda serei.
Mas sendo você é diferente, sabe?
E sendo tanta coisa em ser você, me inspira a nunca querer deixar de ser nós.
Obrigada :)

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Deterioração...



"As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras."



                                                       Friedrich Nietzsche
                                                                                   
As minhas verdade venceram. Exatamente, estragaram como algo guardado e esquecido.
Zelei tanto pela sua integridade, que ficaram passadas, amolecidas e mofadas.
Ah, não são só morangos que mofam, aliás tudo que foi vivo um dia apodrece, com exceção da minha esperança, que aqui entre nós, sempre foi um tanto morta.
Mas estou aqui para resolver meu problema, a propósito sempre venho aqui quando estou com problemas.
Quero saber o que fazer exatamente com essas verdades decompostas que eu trago aqui comigo? 
Como voltar a viver sem a segurança da minha genuinidade guardada?
Entre tantos caminhos reticentes com parágrafos inúteis, como deixei passar justamente a autenticidade?
Consultei em alguns desapegos, mas não achei absolutamente nada verídico.
Imagino que por isso observo tantas e tantas pessoas pregadas as suas verdades, mesmo envelhecidas e amarrotadas.
Afinal, já não se encontram mais com tanta facilidade a verdade por ai. 

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Poeira...

“Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos.                                                                                                    Rubem Alves 

                                   Quanta poeira...

O mundo em suas translações me encaminha de novo para esse diário virtual, cafona e um tanto patético.
Houveram grandes mudanças políticas em meu recesso e continuo trajando as mesmas questões tristes e arrependidas.

Ainda continuo aqui.

Ainda calçando as mesmas dúvidas, mas algo mudou.

Mesmo com outras formas, estou aliviada, pois aquela solidão mudou-se.

Pari meu coração e arrumei um companheiro para essa longa viagem pela terra.

Sou grata pela oportunidade de conhecer o amor.

Mas enfim, estou de volta.


domingo, 31 de julho de 2016

Preda(Dor)

"A invencibilidade está na defesa; a possibilidade de vitória, no ataque. Quem se defende mostra que sua força é inadequada; quem ataca, mostra que ela é abundante."

                                                                                                       Sun Tzu

Muitos anos se passaram, nem todos andei ciente do caos que acontecia em mim, desenhei modelos inteiros de vidas e muita coisa se abrigou na fantasia, outras tomaram contas dos meus olhos e se tornaram reais.
Folhas caídas nesse outono de passagem me recordam como é estar comigo.
Não dispenso detalhes geralmente, o que fazem sempre meu discurso longo e imaginável, mas agora prefiro somente as peças deslocáveis das histórias, gosto de lembrar  dos lobos que repousam em seu braço ou da gargantilha folheado de prata barata que descansa em seu peito, das unhas pintadas com a cor do inverno e o batom fosco de tons escuros.
Vivi muitas vidas em sua vida e pude notar que sua instabilidade existe desde seu mapa astral de ascendência escorpiana até os peixes nada aquarianos que habitam no seu sol.
Te olhei bem fundo, tão fundo que quase notei um pedaço da sua solidão contente vi sua nobre alegria em estar só fundida no desespero pela procura de alguém.
Rompi seus laços e logo depois me esqueci em você, e  como pode um ser
se largar no outro assim?
É notório que isso acontece com frequência em nossas civilizações modernas, meus desejos falaciosos numeram a quantidade de vezes que sorriu ao se lembrar de mim.
Minhas lembranças cantam em companhia a sua dor e meu reino estável deflaga diante dessas memórias.
Estou nua e minha alma não vai se vestir até você voltar, estou sóbria embora embebedada
de mágoas.
O leão que mora em sua lua acalenta meus astros mais perversos mas tudo acontece dentro desse copo de vinho em contato com meu corpo.
Eu fui. Sai secretamente, costurei todos os meus eus e por vingança ( ou compaixão) não deixei nenhum retalho de você, afinal viver nas sombras do seus lobos é aceitar o ataque de outras matilhas.
Mas você não vale o risco.

domingo, 17 de julho de 2016

Projétil



"..Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido."
                                                                             
                            Pablo Neruda



Hoje o sol não quis me olhar.
As nuvens se abracaram e  céu chorou  como a muito não fazia.
Hoje eu quis ficar só, quis abraçar a solidão e deixar as lembranças dos meus olhos vazarem.
Quis lamentar todos os meus pretéritos imperfeitos.
Hoje retirei todas as minhas virgulas e fiz frases inteiras.
As noites difíceis me ensinaram a esperar o canto do galo caduco, ainda que disfuncional.
Hoje vejo que pessoas são universos inteiros em parábolas incompletas.
A vida é uma paráfrase equilibrada em um meio fio, já a morte é só um travessão em travessia ao ponto final.
Fui mal educada com o destino.
Fechei a porta de todas as esperanças amareladas e me sentei ao seu lado, abracei seus sonhos,
acalentei os medos e confie.
Hoje você não está aqui, ninguém está e notei que não há mal maior que enfrentar o vazio
das nossas histórias interrompidas tendo só a  sí.
 Meu sono é exasperado e sem musicalidade, entendi que a dor distrai e optei por ela  nos dias
que passam por mim.
Eu finalmente olhei para dentro, deparei com ela, inexplicavelmente outros estavam também por lá
foi assim que me encontrei.
O amor é o conforto deste quarto vazio.
Um incontrolável. outro desconfortável.
Os demais fiéis e balsâmicos.
Sem versos de tecidos, e bobagens desalinhadas.
Sou uma alma pela metade, com uma saudade inteira e
um piercing pra cuidar. É só.




sábado, 7 de novembro de 2015

Essa é sobre você...


"Pelo retrovisor enxergamos tudo ao contrário
Letras, lados, lestes
O relógio de pulso pula de uma mão para outra e na verdade... ]
[ nada muda
A criança que me pediu dez centavos é um homem de idade ]
[ no meu retrovisor
A menina debruçando favores toda suja
É mãe de filhos que não conhece
Vendeu-os por açúcar
Prendas de quermesse
A placa do carro da frente se inverte quando passo por ele
E nesse tráfego acelero o que posso
Acho que não ultrapasso e quando o faço nem noto
O farol fecha...
Outras flores e carros surgem em meu retrovisor
Retrovisor é passado
É de vez em quando... do meu lado
Nunca é na frente
É o segundo mais tarde... próximo... seguinte
É o que passou e muitas vezes ninguém viu
Retrovisor nos mostra o que ficou; o que partiu
O que agora só ficou no pensamento
Retrovisor é mesmice em dia de trânsito lento
Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal resolvidas
Mostra as ruas que escolhi... calçadas e avenidas
Deixa explícito que se vou pra frente
Coisas ficam para trás
A gente só nunca sabe... que coisas são essas"

Sombras, estilhaços, cicatrizes, escolhas..
Me desfaço em laços para poder esquecer das linhas que se ligam e que por muito tempo sugeriram um caminho que não me levava até você, revejo e não reconheço, como eram frágeis essa segurança quanto a paz.
Quando traço, me estraçalho, quando uno me desmonto e quando vejo, desapareço em um passado que não participei, e enlouqueço untando lãs que fizeram seu corpo morada e costuraram todos os seus sentimentos. Desmorono quando penso o quanto pensou em alguém que não eu,  quando percebo que sua boca pronunciou a muitas outras bocas os beijos e palavras que hoje adoçam minha fonte, felizes daqueles que não tem passado, benditos daqueles que os sepultam de maneira que não renasçam em gestos peculiares que tornam-se comum a medida que se percebem e aparecem sem causa, mas que torturam as imaginações férteis.
Talvez você não sinta nada, mas a incerteza me destroça, queria que essas palavras fossem criadas do seus fragmentos destinadas a mim, queria que nesse cruzamento de corpos e vidas tivessem sido a causa de tudo que criou.
Paguei o preço por seguir minhas tristezas e hoje adoeço pelos pesares que me fizeram ficar, e agora para onde ir?
Emudeço, pois sei que minha razão segue a lógica da loucura de não ter poder para fazer nada, meu presente é concreto, mas cheio de gotículas de memórias que você viveu.
Estou aos pedaços por enxergar a semelhança de um discurso pronto, dito a qualquer coração que vagou e te encontrou.
Eu sigo os traços, ligo os pontos ,descubro o encoberto e me desfaço.
Quantas frases de amor foram formuladas em suas conexões.
Para quantas foram esses tantos dizeres?
Quão reais foram esses sentimentos?
E desse amor, quantos resquícios?
Em quantos corpos esses dizerem pousaram?
O que garante que não mudarás de fonte novamente?
Sua tinta é gasta, de tantas palavras que já pintou, mas o que fazer com esses cadernos se meus pinceis também não estão frescos?
É tortuoso palpar esses papéis, que em mim escorrem fel.
Eu te perdi no meio dos meus diálogos intensos, estou estancando minha frustração de saber que viveu tanto quanto eu, que amou e acreditou.
Quem é mais culpado daquele adeus?
Eu que escolhi parti, partindo também meu coração, sem ao menos imaginar que haveria volta e tantos emaranhados, ou você que mentiu e jurou sob um cadáveres de possíveis futuros abandonados por imaturidade?
Estou embaraçada, pela ressaca dos amores passados .
Me sinto como vento agora, que arrasta consigo tudo aquilo que todo resto deixou para trás .
Me sinto como aquela criança assustada que vê fantasmas enquanto todos dormem.
Me sinto como uma rocha que endureceu e não conseguiu seguir com o balanço da maré, que depende do que é móvel para toca-la.
...
Cada silaba é um conjunto de mágoas, os acentos acentuam a raiva, os espaços aproximam o rancor, os travessões me separam dos diálogos e o silêncio hoje é uma conversa inteira, os pontos não exclamam, mas me questiona ...
Pobre das costas do vento, das portas dos armários e das minhas criações.Pobre de mim . Pobre de nós.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

" Deixem- me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo....
   E enquanto tarda o abismo e o silencio quero estar sozinho.."
                                                                                              Fernando Pessoa
 

As palavras não saem, o olhar se assumiu andarilho e transviante, os sorrisos não se lembram mais do caminho, nem dos motivos, o que houve com a poesia da vida? Foi assassinada! Foi esfaqueada duramente nas costas pelas preocupações estereis ou razões fúteis de existência, mais ainda existe um grito, mudo, preso em uma garganta que não sente mais suas próprias intenções, existe uma felicidade morta pela ausência do que se denomina padrões, logo ela tão incomum, tão faceira e simplória;coitada, acabou conhecendo a piedade depois de moribunda, confesso que a invejava, a esperança não suportou a morte da sua companheira de longa data e também deixou de existir, partiu em busca de encontrar algum outro lugar que possa rever e estar com sua amiga e claro que na bagagem das intenções também carregou a persistência...Então estamos sós?
Absolutamente. Ainda existe a solidão, e o vazio que sofre por nunca ter sido reconhecido como alguém, o nada com sua impotência de reação é assim que explico como me entreguei ao patético, de uma maneira tão visceral que não consigo expressar, até as palavras me abandonaram, era o curativo que aplacava as dores da falta de agir, elas também partiram, fiquei só, sem publico, sem palco e sem espetáculo, e ainda posso sentir todo esse amargo das vitórias que não tive arderem e queimarem sobre o que sou ...sem eu nem mais saber o que sou.
Não tenho dito. Calo. Deságuo, disfarço; agora, até minto. Não me encontro. Minhas verdades são transeuntes controversas e desconexas, a procura de sí.
Falhamos.Na relação consigo e com o outro, e hoje não restou nem o amor as causas perdidas, e como pode um ser na terra não ter o que amar? Adotar como cria o dialogo do " tanto faz".
Você é uma constante nos diálogos que não tive, nas paredes que hesito em olhar, naquelas historias que eu não escrevi, você está em todo lugar, no lugar das coisas que nunca existiram, meu submerso abstrato, meu "se", meu " maybe", nós.
Suma sem remorso junto com esses acovardados sentimentos, que não sentem nada.

Vão. Vã. Vá
E assim se foram ....